Revista Biomais

Luxo do lixo

Recuperação energética no Brasil fechou 2021 com mais de 1 bilhão em investimentos em geração de energia a partir do lixo

O setor de recuperação energética de resíduos está fechando o ano com significativo aumento de sua carteira de associados, entre eles os maiores players do mercado mundial do waste-to-energy, como Veolia (França), Hitachi Zosen Inova (Suíça), Babcock & Wilcox Renewable (USA), Ramboll (Dinamarca), Sacyr (Espanha) e Toyo Setal – Grupo Mitsui (Japão), que são algumas das empresas multinacionais que se associaram a Abren (Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos) em 2021. Além das que já faziam parte como, Sutco Brasil (Alemanha), Solvay (França) e Swan (Suíça).

Neste ano, a Abren alavancou investimentos no setor de recuperação energética de resíduos, atendendo desde a elaboração de projetos por meio de consultorias especializadas, fabricação de equipamentos, construção de usinas e operação de concessões municipais. No início de 2021, a Associação tinha 30 associados, agora são mais de 50.

“Entre as empresas nacionais, destaca-se a Orizon Valorização de Resíduos, considerada hoje a líder do mercado de gestão de resíduos no Brasil e a única do setor listada na B3, que atua desde a gestão de aterros sanitários, captura de gás de aterro para geração de energia elétrica, produção de CDR para o coprocessamento, recuperação energética, reciclagem, entre outros serviços ambientais”, comenta o presidente da ABREN, Yuri Tisi.

A Orizon foi a responsável por viabilizar a primeira Unidade de Recuperação Energética de Resíduos (URE) no Brasil. Trata-se da URE Barueri, contratada no Leilão A-5 do MME, cujas obras iniciam no 1º semestre de 2022, com capacidade de gerar 20MW de potência instalada e tratar 870 ton/dia de RSU.

Segundo estudo da Abren, considerando um cenário que representa 58% de todo o lixo urbano gerado no Brasil (RSU), englobando as 28 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes, somados aos municípios com mais de 200 mil habitantes, poderão ser demandados investimentos de R$ 78,3 bilhões (CAPEX), nas 274 usinas URE (94), CDR (95) e Biogás (85), além de instalações de centrais de reciclagem não computadas nesse valor.

Assim, serão tratados 46 milhões de toneladas de RSU por ano, sendo destinados 62% para URE, 21% para CDR, 11% para biogás e 6% para reciclagem, somente 4% serão destinados a aterros. Serão gerados 15 mil empregos diretos, e evitará 63 milhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde a 192 milhões de árvores plantadas por ano, área similar ao Município de São Paulo.

A Abren estima que tenham sido investidos cerca de R$ 150 milhões em usinas de CDR e coprocessamento, R$ 50 milhões em usinas de TMB e aproximados R$ 600 milhões na construção da URE Barueri, sendo que as obras se iniciam no 1º semestre de 2022 e devem ser concluídas em um horizonte de 32 meses.

Os associados da Abren esperam investir mais de R$ 5 bilhões nas plantas que vão participar de leilões nos próximos meses. Estima-se que, nos próximos 10 anos, essas empresas invistam em torno de R$ 50 bilhões em usinas de recuperação energética de resíduos no Brasil.

Para 2022, a Associação trabalha para que sejam contratados 150 MW de potência instalada em leilões promovidos pelo MME, inclusão de energia gerada a partir de RSU nos diversos leilões A-4, A-5 e A-6, assim como nos leilões de capacidade. Também atua para que as emendas legislativas encaminhadas sejam aprovadas ainda em 2022, seja por meio de projetos existentes ou projeto próprio. Com apoio do FMASE (Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico) e da Coalizão Valorização Energética de Resíduos, a ABREN conta com articulação ampla do setor privado para buscar a aprovação de instrumentos econômicos que irão alavancar ainda mais projetos waste-to-energy no Brasil.

A ABREN também espera que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) regulamente ainda neste 1º semestre de 2022 a geração distribuída por chamada pública, permitindo que as distribuidoras de energia elétrica contratem até 10% de sua demanda nacional, incluindo usinas de recuperação energética de resíduos.

Além disso, existe a expectativa de que o mercado de crédito de carbono seja regulamentado e inicie a operação financeira no Brasil, o que valorizará os projetos de recuperação energética de resíduos no país, especialmente para atendimento do compromisso assumido pelo Brasil na COP 26, que traz a meta de redução de 30% do metano gerado até 2030.

Há também a perspectiva de que sejam editadas regulações específicas no âmbito da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), Aneel e Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) para regular adequadamente todas as questões inerentes à recuperação energética de resíduos no Brasil.

 Reportagem da REFERÊNCIA BIOMAIS, edição 50.

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