Revista Biomais

Entrevista com Alex Wellington dos Santos

Formação profissional: Graduado em Engenharia Florestal pela UNC (Universidade do Contestado), com pós-graduação em Engenharia de Produção pela UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) e Gestão Florestal pela UFPR (Universidade Federal do Paraná)

Cargo: Presidente da ACR (Associação Catarinense de Empresas Florestais)

Combustível do futuro

A biomassa cada vez mais tem surgido como uma opção confiável para a produção sustentável de energia. Além de ter alto poder calorífico e baixo teor de cinzas, ainda possibilita a utilização de um material que seria descartado no meio ambiente. A busca do setor produtivo é por maior fomento para que a biomassa continue a ganhar não apenas no Brasil, mas seja cada vez mais aceita no mercado internacional, em especial a Europa. O presidente da ACR (Associação Catarinense de Empresas Florestais), Alex Wellington dos Santos, concedeu entrevista exclusiva a Revista BIOMAIS sobre o cenário da matéria-prima no Brasil e como o combustível pode ser ainda mais inserido no país.

– Uma das principais buscas das indústrias no século XXI é o desenvolvimento sustentável. Como a biomassa de madeira pode auxiliar nesse objetivo?

Atualmente ouvimos diversas falas sobre aquecimento global e os rumos ambientais do mundo. Assim, a energia de biomassa está em pauta, especificamente sobre o abastecimento energético. Dessa forma, é importante entender os impactos das diferentes formas de geração de energia e emissões atmosféricas e aderir à opção mais sustentável. Isso garante que uma empresa ou negócio possa optar por um tipo de energia menos agressivo ao meio ambiente, com muitas vantagens no futuro para as novas gerações e (por que não?), agora. A energia de biomassa de madeira é uma energia gerada a partir do uso da biomassa como matéria-prima, no caso a madeira (Eucalyptus e Pinus são as mais comuns) ou outro vegetal. O material é queimado em caldeiras ou aquecedores para gerar calor. O aproveitamento da biomassa para gerar energia elétrica, calor e biocombustível está entre as melhores práticas de produção de energia. É totalmente sustentável e diferentemente dos combustíveis fósseis. Desenvolvimento sustentável significa emissão zero, nos próximos 20 a 30 anos. Ressaltamos a importância da pesquisa no desenvolvimento de projetos comprometidos com gestões ambientais conscientes, eficientes e aplicáveis à realidade brasileira.

– O sul do Brasil é um dos principais polos produtores de biomassa no Brasil. Como os Estados conseguiram esse status e o que fazer para evoluir ainda mais o setor?

A conscientização sobre o impacto ambiental da queima de combustíveis fósseis aumentou consideravelmente a busca por fontes alternativas, entre elas a energia de biomassa. Entre as vantagens estão: custo reduzido; menor emissão de gases poluentes; fácil conversão e transporte; alta disponibilidade de matéria-prima e alta capacidade de aproveitamento dos resíduos.

Em 2021, o volume de biomassa florestal atingiu cerca de 155 milhões de m³ (metros cúbicos). A grande maioria é consumida nos próprios parques industriais. Cerca de 3% deste total é exportado. No ano passado o país atingiu a marca de 1,7 milhão de toneladas, o que representou um valor de US$ 148 milhões. Os principais destinos foram: China, Portugal e Japão, que juntos representam 90% do total.

– Santa Catarina é um dos principais produtores de madeira no Brasil e tem conseguido ampliar a sua área plantada. Como é realizado esse trabalho?

O Estado tem a silvicultura como característica histórica e cultural. O plantio de árvores para fins industriais atravessa gerações. A tendência é que essa prática cresça ainda mais, com a inovação e formação técnica. Por isso destacamos a importância de estarmos próximos às entidades de ensino e pesquisa. A associação Catarinense de Empresas Florestais tem uma história com mais de 46 anos na representação das empresas nas pautas ligadas ao setor. Isso passa pela oferta de cursos, busca a apresentação de casos de sucesso e fortalecimento das relações interinstitucionais. Assim, o setor cresce estruturado, trazendo benefícios ao setor ligado à biomassa. Sendo devidamente estudada e valorizada, a biomassa deixa de ser vista como um problema causador de impacto ambiental, como na década passada, mas sim como um subproduto, ou um produto com crescimento exponencial. Acreditamos que em pouco tempo teremos indústrias para geração energia com biomassa, com possibilidade de atender a demanda e potencial de crescimento dos Estados. O setor de biomassa cresce, tanto em volume quanto em agregação de valor. Os pellets de madeira, por exemplo, são um biocombustível altamente inovador. Tem alto poder calorífico e baixo teor de cinza. É muito bem aceito no mercado energético europeu, altamente exigente quanto às características do produto. O volume de produção deste produto no Brasil cresceu de 185 mil toneladas (2016) para 700 mil toneladas (2021), resultando em aumento de 378% em um período de 5 anos.

– Até que ponto o poder público trabalha para que a biomassa possa ser mais inserida como combustível em mais Estados no Brasil?

O poder público deveria ser protagonista, criando um plano de desenvolvimento de florestas plantadas e oferecendo linhas de financiamento com juros baixos. Assim, os Estados teriam políticas e eixos estratégicos para nortear a riqueza florestal, absorvendo a matéria-prima e convertendo em produtos para o mercado interno e para exportação, a exemplo da região sul, conhecida pela diversidade industrial.

Entrevista da REFERÊNCIA BIOMAIS, edição 51.

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