UE ANUNCIA INVESTIMENTO EM HIDROGÊNIO VERDE NO BRASIL

Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um investimento de 2 bilhões de euros (cerca de R$ 10 bilhões) em hidrogênio verde no Brasil. A declaração foi feita logo após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Brasília.

“Fico muito satisfeita por lançarmos outro projeto do Global Gateway sobre hidrogênio verde. Com isso, a Europa vai investir 2 bilhões de euros [R$ 10,5 bilhões] para apoiar a produção brasileira de hidrogênio verde, promovendo eficiência energética na sua indústria”, disse no Palácio do Planalto.

Von der Leyen ainda afirmou que a União Europeia tem o objetivo de importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável, todos os anos, no âmbito do chamado European Green Deal. Ela disse que é possível construir um mercado transatlântico de hidrogênio limpo.

As declarações foram dadas em meio a uma viagem de Von der Leyen a quatro países à América Latina nesta segunda-feira para fortalecer os laços políticos e comerciais que a União Europeia admite ter negligenciado. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a União Europeia tem procurado parceiros “com ideias semelhantes” para fornecer outras fontes de comércio e minerais essenciais necessários para sua transição verde e ajudar a reduzir sua dependência da China.

O hidrogênio é visto por muitos como o combustível do futuro, principalmente em sua versão sustentável —chamada de hidrogênio verde—, cuja produção o Brasil tem condições de liderar globalmente.

O QUE É HIDROGÊNIO VERDE?

Embora exista em grande quantidade na natureza, o hidrogênio raramente é encontrado em sua forma elementar (hidrogênio puro), mas, sim, ligado a outros elementos, como na água (formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio) ou no petróleo (em que ele está ligado a vários outros elementos, como carbono, nitrogênio etc.)

A extração do hidrogênio precisa ser feita a partir de alguma dessas matérias-primas. Hoje é feita principalmente das de origem fóssil, como gás natural, petróleo ou carvão, técnica menos sustentável.

O hidrogênio verde (H2V), por sua vez, é derivado da água e extraído com o uso de energia elétrica renovável para quebrar a molécula e separar o hidrogênio gasoso do oxigênio.

QUAL O IMPACTO AMBIENTAL DO USO DO HIDROGÊNIO VERDE?

Segundo a Agência Internacional de Energia, apenas a substituição do hidrogênio “cinza” pelo verde ajudaria a economizar cerca de 830 milhões de toneladas de carbono por ano, o equivalente às emissões de Reino Unido e Indonésia somadas.

Se considerar o potencial para substituir outros combustíveis poluentes —na siderurgia e na aviação, por exemplo—, o impacto positivo para o meio ambiente pode ser ainda maior.

POR QUE O COMBUSTÍVEL AINDA NÃO É USADO EM LARGA ESCALA?

O problema é que as tecnologias de produção em larga escala não estão 100% consolidadas. Além disso, transportar hidrogênio é desafiador, pois exige que o armazenamento seja feito em baixas temperaturas e alta pressão, dificultando a logística.

No entanto, como o mercado é promissor, empresas estão apostando no desenvolvimento da indústria de H2V. Num momento em que a crise climática se mistura com a crise energética na Europa, a corrida ganhou senso de urgência.

POR QUE O BRASIL TEM VANTAGENS NESSA PRODUÇÃO?

Porque o país tem condições climáticas favoráveis à geração de energia solar e eólica.

Atualmente, o Brasil é o terceiro país que mais produz energia renovável no mundo, atrás apenas de EUA e China. A alta oferta também coloca o país entre os mais competitivos em termos de preço.

Um estudo da BloombergNEF projeta o Brasil como um dos únicos capazes de oferecer hidrogênio verde a um custo inferior a US$ 1 por quilo até 2030. Considerando o longo prazo (2050), a cifra pode cair para US$ 0,55/kg.

QUANTO É PRECISO INVESTIR PARA ESSA PRODUÇÃO?

Mas, para viabilizar esse cenário, o país precisará investir alto na indústria, algo em torno de US$ 200 bilhões (R$ 1,04 trilhão) até 2040, segundo estimativas da consultoria McKinsey.

Franceli Jodas, líder global de energia da consultoria KPMG, diz que o Brasil já começou a se movimentar nessa direção. Os projetos, ela ressalta, ainda são pilotos, mas isso é algo que está acontecendo globalmente.

“O hidrogênio verde é uma tecnologia nova e muito cara. Ainda não é tão competitivo”, afirma.

Segundo Jodas, é preciso passar por um período de maturidade não só da tecnologia em si, mas de questões de mercado internacional também. “Todo mundo quer ser o grande exportador de hidrogênio verde, todos querem atender às demandas de energia da Europa, mas o fato é que precisamos de desenvolvimento tecnológico ainda”.

Ela lembra que os EUA lançaram em 2022 a chamada “Lei de Redução da Inflação”, um pacote de mais de US$ 400 bilhões (R$ 2,08 trilhões) para estimular soluções ambientais, incluindo o hidrogênio. “Estamos falando de uma corrida geopolítica para atender a uma demanda da Europa, que tem uma limitação forte na produção de energia.”

O BRASIL JÁ TEM INVESTIMENTOS EM HIDROGÊNIO VERDE?

Atualmente, o Nordeste concentra a maior movimentação em torno do H2V no Brasil. A região quer se posicionar como um polo produtor, devido ao alto potencial para geração de energia solar e eólica, além da localização estratégica dos portos em relação ao mercado europeu.

O Ceará é o estado com o maior número de projetos já anunciados, mas Bahia, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte vêm logo atrás.

Segundo Joaquim Rolim, coordenador de energia na Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), o estado possui mais de 24 memorandos de entendimento feitos com empresas nacionais e estrangeiras, o que representa uma sinalização de investimento superior a US$ 29,7 bilhões (R$ 154,9 bilhões).

“Nós temos condições de produzir no Brasil, no Nordeste e, particularmente, no Ceará, o hidrogênio verde mais barato do mundo”, diz Rolim, acrescentando que a complementaridade da produção de energia eólica e solar é um fator diferencial da região.

Mas é na Bahia que a primeira fábrica de H2V está sendo construída. Em julho de 2022, a Unigel anunciou o projeto, com investimento inicial de US$ 120 milhões (R$ 626 milhões). A usina ficará no Polo Industrial de Camaçari e deve entrar em operação até o final de 2023.

Luiz Felipe Fustaino, diretor executivo da Unigel, explica que o interesse da companhia na indústria está na amônia verde, que é um dos subprodutos do H2V.

A empresa atua no setor químico e petroquímico, e é grande consumidora do composto, que hoje é produzido principalmente através da sintetização do gás natural.

Após assumir as fábricas de fertilizantes da Petrobras, em 2020, a Unigel passou a ser produtora de amônia e viu que fazia sentido entrar no mercado de hidrogênio verde.

Segundo Fustaino, a usina na Bahia vai converter todo o H2V em amônia, que pode ser usada como fonte de energia, combustível marítimo e para a fabricação de fertilizantes e acrílicos com menor pegada de carbono. No entanto, o produto também pode ajudar a resolver uma dificuldade técnica relevante: o transporte e armazenamento.

“Hidrogênio é um gás extremamente volátil. Para armazená-lo, é preciso que a temperatura esteja na casa de -300ºC [o zero absoluto corresponde a -273 ºC ] ou sob muita pressão. Já a amônia é um produto mais fácil”, diz. “Então transporta-se a amônia e o cliente reverte o processo.”

A expectativa é que no fim de 2023, a Unigel já tenha a usina pronta para fabricar as primeiras toneladas de hidrogênio verde. A previsão inicial é produzir 10 mil toneladas por ano, que serão convertidas em 60 mil toneladas de amônia verde. A segunda fase prevê expandir a produção em dez vezes.

Além da Unigel, outras empresas já deram os primeiros passos no mercado de H2V. A White Martins, por exemplo, assinou memorandos de entendimento no Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O objetivo é estudar a viabilidade de projetos com foco na exportação, bem como na aplicação na indústria brasileira.

A Shell é outra com interesse no hidrogênio verde. Em setembro de 2022, a petrolífera injetou R$ 50 milhões num projeto em parceria com Raízen, USP e outras organizações para desenvolver uma tecnologia capaz de transformar etanol em hidrogênio verde.

Antes disso, em maio, a companhia havia fechado um acordo para a construção de uma fábrica de H2V no Porto do Açu (RJ), com investimento entre US$ 60 milhões e US$ 120 milhões.

Mas é na Bahia que a primeira fábrica de H2V está sendo construída. Em julho de 2022, a Unigel anunciou o projeto, com investimento inicial de US$ 120 milhões (R$ 626 milhões). A usina ficará no Polo Industrial de Camaçari e deve entrar em operação até o final de 2023.

Luiz Felipe Fustaino, diretor executivo da Unigel, explica que o interesse da companhia na indústria está na amônia verde, que é um dos subprodutos do H2V.

A empresa atua no setor químico e petroquímico, e é grande consumidora do composto, que hoje é produzido principalmente através da sintetização do gás natural.

Após assumir as fábricas de fertilizantes da Petrobras, em 2020, a Unigel passou a ser produtora de amônia e viu que fazia sentido entrar no mercado de hidrogênio verde.

Segundo Fustaino, a usina na Bahia vai converter todo o H2V em amônia, que pode ser usada como fonte de energia, combustível marítimo e para a fabricação de fertilizantes e acrílicos com menor pegada de carbono. No entanto, o produto também pode ajudar a resolver uma dificuldade técnica relevante: o transporte e armazenamento.

“Hidrogênio é um gás extremamente volátil. Para armazená-lo, é preciso que a temperatura esteja na casa de -300ºC [o zero absoluto corresponde a -273 ºC ] ou sob muita pressão. Já a amônia é um produto mais fácil”, diz. “Então transporta-se a amônia e o cliente reverte o processo.”

A expectativa é que no fim de 2023, a Unigel já tenha a usina pronta para fabricar as primeiras toneladas de hidrogênio verde. A previsão inicial é produzir 10 mil toneladas por ano, que serão convertidas em 60 mil toneladas de amônia verde. A segunda fase prevê expandir a produção em dez vezes.

Além da Unigel, outras empresas já deram os primeiros passos no mercado de H2V. A White Martins, por exemplo, assinou memorandos de entendimento no Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O objetivo é estudar a viabilidade de projetos com foco na exportação, bem como na aplicação na indústria brasileira.

A Shell é outra com interesse no hidrogênio verde. Em setembro de 2022, a petrolífera injetou R$ 50 milhões num projeto em parceria com Raízen, USP e outras organizações para desenvolver uma tecnologia capaz de transformar etanol em hidrogênio verde.

Antes disso, em maio, a companhia havia fechado um acordo para a construção de uma fábrica de H2V no Porto do Açu (RJ), com investimento entre US$ 60 milhões e US$ 120 milhões.

Fonte: Absolar

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