Por Alysson Paolinelli, agrônomo e presidente do Instituto Fórum do Futuro. Foi ministro da Agricultura e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Diante de tantas crises globais, tão agudas e de natureza tão diversa, temos ao mesmo tempo uma enorme janela de oportunidades pela frente: precisamos transformar as crises na proposição de um novo diálogo, em um Pacto Global do Alimento, que defina como os povos tropicais vão poder colaborar nas principais agendas da humanidade enfrentadas hoje.
Isto é bem possível. Juntos já vencemos etapas importantes. Superamos todas as expectativas ao deixar a condição de importadores de alimentos para ser um player central da segurança alimentar planetária. Alimentamos, hoje, quase 1 bilhão de pessoas. A miséria e a fome se agravaram. Temos as tecnologias, mas é preciso fazer com que cheguem às mãos de quem precisa. Existem 4,5 milhões de famílias ainda excluídas dos avanços do conhecimento e das tecnologias. Não temos o direito de esconder essa realidade no biombo dos 834 mil produtores altamente tecnificados, grande parte já inseridos na agenda da sustentabilidade. Precisamos avançar
Segundo Durval Dourado Neto, diretor da ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP), que esteve conosco no final de setembro no Fórum do Futuro, é possível estruturar modelos de governança de políticas públicas e privadas que permitam ao Brasil alimentar mais 1 bilhão de pessoas sem desmatar. A intensificação do sistema produtivo (fazer mais em um espaço de terra menor) é o grande segredo, sendo que o foco seria organizar essa proposição numa visão de Estado, de acordo com o especialista.
A ideia central é fazer um plano de ação de política pública para atender a demanda mundial no que diz respeito à segurança alimentar sem a necessidade de desmatar nenhum hectare.
Seguindo essa linha de raciocínio, o presidente do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Evaldo Vilela, também defende que o principal desafio está em democratizar e disseminar o uso do conhecimento e das ferramentas tecnológicas entre os produtores. A questão da agricultura e da produção sustentável está ao alcance de todas as universidades que, de alguma maneira, contribuem para uma produção que respeita os biomas.
DESAFIOS
Diretor geral do Fórum do Futuro, Márcio Miranda destacou a difícil missão de articular todos os atores envolvidos no sistema de produção alimentar brasileiro com a agenda ESG, que pauta cada vez mais a governança dos negócios do setor. “O mundo está em acelerada transformação ao mesmo tempo em que vive crises no campo civilizatório que vão impactar decididamente a forma como produzimos e consumimos alimentos. As cadeias produtivas e os mercados serão cada vez mais influenciados por estas pautas civilizatórias, nas chamadas bio based societies”, afirmou Miranda.
Outro bom exemplo vem da UNIR (Universidade Federal de Rondônia), que desenvolve ciências em prol de Rondônia e região. Com projetos e trabalhos na perspectiva da agricultura e do desenvolvimento sustentável local, a instituição possui cerca de 26 programas de pós-graduação, que contribuem para práticas mais sustentáveis na agropecuária, onde o Estado, que é bastante forte nessa cadeia, enfrenta um problema muito sério sobre a questão ambiental e unidades de preservação, que estão sob ameaça.
Além da questão do reflorestamento, existe a dificuldade de desenvolver tecnologias que permitam processos mais sustentáveis nas cadeias produtivas. Sem dúvidas, é um grande desafio para Rondônia, junto a universidade, que tem tentado fortalecer as linhas de pesquisa para mostrar que existe alternativas.
Espaço Aberto da REFERÊNCIA BIOMAIS, edição 53.